Uma pesquisa recente aponta que 3,7 milhões de pessoas vivem em áreas dominadas por milícias no Rio de Janeiro. Para discutir a questão, a Sputnik Brasil ouviu o ex-instrutor do BOPE, Paulo Storani, que apontou a necessidade das ações de investigação contra milicianos.
Nesta segunda-feira (19), dados da pesquisa Mapa dos Grupos Armados do Rio de Janeiro, publicados pelo portal G1, revelaram que a milícia controla áreas maiores do que o tráfico de drogas na capital fluminense. A estimativa é que 3,76 milhões dos cerca de 6,7 milhões de habitantes do Rio vivam em áreas controladas por milícias – 96 dos 163 bairros cariocas.
Para Paulo Storani, ex-instrutor do BOPE, esquadrão de elite da Polícia Militar do Rio de Janeiro, afirma que a pesquisa indica um quadro de "anomia" que não existe, mas ressalta que faltam políticas públicas de contenção da milícia e aponta a necessidade do foco na investigação, além do policiamento ostensivo.
"Sobre a questão das milícias, o que sempre demonstrou ser muito eficiente é a ação de investigação, para se poder fazer ações pontuais, cirúrgicas, como já aconteceu na década passada", afirma o ex-instrutor do BOPE, que aponta que a ação foi encerrada devido à presença da milícia no Legislativo carioca e também por causa dos sucessivos casos de corrupção no governo do estado.
Storani, que é também antropólogo e leciona na área de Ciências Criminais, aponta que a legislação contra crimes como os cometidos pela milícia é branda, e deixa brechas que são aproveitadas por criminosos. O especialista aponta também, que as áreas de maior incidência da milícia estão em bairros desassistidos pelo poder público.
"Os locais onde as ações são mais contundentes, sem dúvida nenhuma, são aqueles menos atendidos pelas políticas públicas estaduais e municipais. Então, na ausência de um poder legitimamente constituído através do voto e das políticas necessárias para proporcionar á população o seu bem-estar, aquelas que tem menor atendimento é onde elas [as milícias] se implantam", afirma.
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No Rio de Janeiro, a polícia realiza a perícia no local da reconstituição do caso do assassinato da menina Ágatha Félix, na rua Antônio Austregésilo, subida da localidade da Fazendinha, no Complexo do Alemão, em 1º de janeiro de 2019.
O professor de Ciências Criminais também recorda que é comum que membros das milícias sejam agentes ou ex-agentes do Estado, como policiais, e ressalta que a ameaça da milícia é tão perigosa quanto a do tráfico de drogas, como mostra a pesquisa.
"O tráfico, quando se expande e determina que o comércio próximo à região dominada, que é comunidade, se feche porque vai haver uma atividade ou porque um traficante foi morto ou foi preso. Enfim, os milicianos fazem a mesma coisa sem dúvida nenhuma, então nós estamos falando de criminosos. Um deles o tráfico de drogas, e outro esse conceito que aqui no Rio de Janeiro determinamos milícias, [nas quais estão] muitas vezes envolvidos agentes ou ex-agentes que trabalhavam no próprio Estado, agentes de segurança que se tornaram criminosos", comenta.
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No Rio de Janeiro, viaturas da divisão de homicídios são vistas no local do assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, mortos a tiros na Rua Joaquim Palhares, em 14 de março de 2018.
Para combater tanto o tráfico quanto as milícias, Storani acredita que seja necessária uma política pública nacional e ênfase na ação de investigação, apesar de acreditar que nada disso será o suficiente sem o endurecimento das leis.
"Por melhor que faça a polícia civil na sua parte investigativa, a polícia militar na sua parte de operações policiais, seria muito difícil, ou melhor, será muito difícil revertermos esse quadro simplesmente acreditando que ação de polícia vai resolver todos os problemas de segurança pública - o que não vai", afirma.
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