Depois da Segunda Guerra Mundial, o Japão renunciou à força militar como via para solução de conflitos. O país asiático, que perdeu a guerra por apoiar a Alemanha nazista, se comprometeu a não ter forças armadas que disponham de potencial bélico. A renúncia de Tóquio a possuir forças armadas está imortalizada na Carta Magna do país asiático aprovada em 1947.
Menos de uma década depois do fim da sangrenta guerra que custou milhões de vidas, em 1954, Tóquio ganhou a permissão de criar as Forças de Autodefesa do Japão. Decisão de permitir esta criação aconteceu no contexto da Guerra Fria. O Japão se encontrava às margens do "mundo democrático" e, à sua volta, se localizavam as gigantes comunistas, a URSS e a República Popular da China.
Segundo análise de Sputnik, a partir daí, começou o ressurgimento gradual do militarismo japonês. À medida que passavam anos, a retórica a favor da restauração das Forças Armadas do Japão ganhou mais e mais ímpeto. O mais alarmante é que estes ideais são populares não apenas dentro da sociedade, mas também dentro da cúpula política do Estado japonês.
Veneração dos criminosos de guerra
Políticos japoneses começaram a permitir coisas que antes não ousavam a fazer. A partir de 1975, primeiros-ministros do Japão visitaram em diversas ocasiões o santuário Yasukuni, onde repousam os restos de soldados japoneses, entre eles, os restos de criminosos de guerra que cometeram crimes contra humanidade durante a Segunda Guerra Mundial.
O ex-primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, também visitou o santuário em várias ocasiões, o que provocou muita indignação na China. Dá para entender a raiva do povo chinês, porque o gigante asiático sofreu enormes perdas por causa das atrocidades cometidas por seguidores do militarismo japonês.
© AFP 2020 / YOSHIKAZU TSUNO
Padres japoneses saindo do Santuário de Yasukuni
Em outras palavras, a visita do primeiro-ministro de um país como Japão a este santuário é vista por muitas pessoas como um gesto de veneração a militarismo e imperialismo que produziram milhões de mortos. Ainda no Japão há muitos cidadãos que se opõem a estas ações por parte de altos políticos e a militarismo em geral.
Porém, o ressurgimento do militarismo não se limita à veneração dos soldados mortos e de alguns criminosos de guerra.
Ressurgimento do militarismo na prática
Tóquio investe ativamente no desenvolvimento de suas capacidades militares e este trabalho tem sido bem-sucedido. O Japão é famoso por ser um dos principais gigantes industriais do mundo, por isso mesmo não admira que o país asiático tenha material bélico de vanguarda.
O Japão conta com várias empresas que formam a espinha dorsal de sua indústria militar. Sem dúvidas, a principal fabricante de produtos bélicos é a Mitsubishi Heavy Industries. Esta empresa produz tanques, veículos blindados de combate, aviões militares, navios de guerra, mísseis e outros materiais bélicos. Mitsubishi, fundada no século XIX, foi uma das principais fornecedoras de material militar ao Japão durante a Segunda Guerra Mundial e ainda é.
Outra empresa importante para indústria militar japonesa é Kawasaki Heavy Industries.
Segundo status do Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (SIPRI, na sigla em inglês), publicado em abril de 2020, em 2019 o Japão ocupou nono lugar mundial em gasto militar contando com 47,6 bilhões de dólares (R$ 260,2 bilhões na cotação atual), que é pouco menos dos indicadores de 2009 quando Tóquio gastou 51 bilhões de dólares (R$ 279 bilhões, na cotação atual). A agência japonesa Kyodo informou que os militares japoneses solicitaram 51,7 bilhões de dólares (R$ 283 bilhões) para próximo ano fiscal, que começa em 1º de abril de 2021.
© SPUTNIK / GRIGORY SYSOEV
Primeiro-ministro japonês Shinzo Abe e presidente russo Vladimir Putin durante o Fórum Econômico Oriental
O Japão nunca recuou na sua política de despesas militares. Se comparados os indicadores de 2008 com os de 2019, vemos que o gasto militar corresponde à mesma porcentagem do PIB, 0,9%. Em comparação com outras potências militares do planeta, esta porcentagem não é tão grande, mas, ainda assim, trata-se de grandes quantidades de dinheiro que fazem com que o Japão esteja no Top 10 dos países que gastam mais militarmente.
Modernização militar em curso
O Japão gasta quantidades enormes de dinheiro em inovações militares. Em geral, moderniza todos os ramos das Forças de Autodefesa. Em particular, investe na construção de submarinos de combate. Por exemplo, Tóquio está desenvolvendo os submarinos da classe Taigei. O Ministério da Defesa japonês construiu três submarinos da classe e outros quatro já foram encomendados. Estes submersíveis se juntarão à frota de 12 submarinos da classe Soryu.
Por causa das tensões em torno da pertinência das ilhas Senkaku, reclamadas por China e Taiwan, o Japão decidiu converter seus inovadores porta-helicópteros da classe Izumo – que tem o mesmo nome que a classe de cruzeiros japoneses que lutaram na Segunda Guerra Mundial – para que sejam capazes de albergar os caças F-35B. O Japão também tem uma nova classe de destróieres Maya e outras novas classes de navios.
© AFP 2020 / TORU YAMANAKA
Izumo, destróier porta-helicópteros japonês (arquivo)
Desde 2012, Mitsubishi Heavy Industries produz tanques de nova geração Type 10. Atualmente, o Japão tem ao seu dispor mais de 100 veículos de combate Type 10. Quanto à Força Aérea de Autodefesa, o Japão encomendou mais de 100 caças F-35A e F-35B. Além disso, desenvolveu protótipo de um caça de quinta geração e planeja usar estas tecnologias para criar um caça de sexta geração no futuro. O trabalho já está em curso.
A única pergunta que aparece neste contexto é a seguinte: para que o Japão necessita de armas avançadas e por que em tantas quantidades? Pode parecer ser arma demais para se defender, especialmente levando em consideração que os EUA têm presença militar no arquipélago e o protegem, e que Tóquio é proibida de ter forças armadas com potencial bélico. Simultaneamente, o Japão já está no caminho para a revisão do Artigo 9 da Constituição.
Deveria Moscou e Pequim se armarem?
O Japão gostaria de ter um papel mais importante na região e por isso tenta acumular mais peso geopolítico através do desenvolvimento de suas capacidades militares. O Japão não só mantém uma disputa pelas Ilhas Senkaku, mas também reclama a soberania sobre quatro Ilhas Curilas. Há quem diga que, em um conflito armado contra o Japão, a Rússia sairia derrotada. No entanto, esta suposição é incorreta.
Ainda que o Japão possua mais aviões militares que a Rússia no Extremo Oriente, Moscou é capaz de mover rapidamente seus aviões da parte europeia do país. No quesito Marinha, os pontos fortes da Força Marítima de Autodefesa do Japão são seus porta-helicópteros e destróieres.
© SPUTNIK / YURI SOMOV
Guardas de fronteira da Rússia nas Ilhas Curilas
A Força Marítima de Autodefesa do Japão tem mais navios do que a Frota do Pacífico russa, mas, se necessário, Moscou poderia aumentar seu agrupamento naval no Extremo Oriente, que seria reforçado ainda mais pela aviação.
Em qualquer caso, triunfar em uma teórica guerra entre a Rússia e o Japão seria uma tarefa muito difícil para ambos. Porém, o que é ainda mais importante é que um conflito entre Moscou e Tóquio é pouco possível hoje em dia. A Rússia e o Japão são sócios econômicos importantes e cooperam em muitos outros âmbitos. No entanto, Moscou, igualmente como Pequim, deveria estar preocupada pela crescente potência militar do Japão. Já dizia o provérbio em latim, Si vis pacem, para bellum, ou seja, se quer paz, prepare-se para a guerra.
Neste sentido, a Rússia modernizou significativamente seu agrupamento militar nas Ilhas Curilas, em particular, na ilha Matua.
Além do mais, a Rússia recentemente mobilizou para as Curilas tanques armados com mísseis. Trata-se de veículos de combate T-72B3. Moscou efetivamente enviou uma mensagem clara a Tóquio. Com mobilização de tanques, a Rússia mostra que está pronta para defender as ilhas em caso de qualquer agressão e não as entregará ao Japão.
Na verdade, o país eurasiático comprova que é capaz de enfrentar um possível adversário, se for necessário. Inclusive se um dia o militarismo voltar a dominar a agenda política japonesa.
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