A Universidade de Washington divulgou um estudo que estima que o Brasil pode chegar a 90 mil mortes por COVID-19 até agosto. Sobre o tema, a Sputnik Brasil conversou com o médico Alexandre Telles, que avaliou que a situação brasileira atual torna o quadro possível.
O Brasil tem atualmente 218.223 casos confirmados de COVID-19, além de 13.993 mortes causadas pela doença. O controle da pandemia no país tem sido marcado por desencontros protagonizados pelo presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, que diverge de recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Com o avanço da pandemia, estudos passaram a apontar o Brasil como um futuro epicentro da transmissão do Sars-Cov-2 no mundo. Segundo o estudo da Universidade de Washington, divulgado na terça-feira (12), o país pode chegar a até 90 mil mortos até o dia 4 de agosto, atrás apenas dos Estados Unidos, país que segundo a universidade pode chegar a 147 mil óbitos causados pela COVID-19 no mesmo período.
Para o médico Alexandre Telles, presidente do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro, a projeção do estudo apresenta um quadro possível diante da forma como o Brasil vem lidando com a pandemia somada às características de transmissão do vírus.
"A gente sabe que esse coronavírus tem um potencial muito grande de propagação, de infectar muitas pessoas", aponta Alexandre Telles em entrevista à Sputnik Brasil.
Telles ressalta que o quadro tétrico apresentado pelo estudo é reforçado pelo sucateamento do Sistema Único de Saúde (SUS), considerado uma "fortaleza" pelo médico e que precisa "urgentemente" de investimentos.
"A gente tem que urgentemente reverter [o sucateamento], porque o SUS é patrimônio de todo brasileiro e ele é nesse momento uma fortaleza muito grande para a gente", avalia.
O médico explica que o Rio de Janeiro, onde atua, é um exemplo dessa necessidade, uma vez que há no município 1,3 mil pessoas à espera de um leito de hospital. O estado tem atualmente 19.987 casos e 2.438 mortes causadas pela COVID-19.
© AP PHOTO / SILVIA IZQUIERDO
Profissional de saúde coloca um caixão de um paciente vítima da COVID-19 no Rio de Janeiro
Telles ressalta que é fundamental que se aprofunde o isolamento social nas cidades brasileiras, superando atitudes que ele classificou como "individualistas", como não respeitar a quarentena.
"Superar isso e pensar de um ponto de vista mais coletivo, de adotar as medidas, utilizar as máscaras e só sair quando for extremamente necessário. É uma doença altamente contagiosa, é uma doença na qual um grande número de pessoas necessita de leitos de CTI [Centro de Tratamento Intensivo] e a gente não tem essa capacidade instalada no Sistema Único de Saúde nesse momento", afirma, acrescentando que sem eficiência no isolamento, as mortes devem aumentar.
O médico também comenta a possibilidade do chamado "lockdown", o confinamento das pessoas em suas casas. A entidade que Telles representa, o Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro, apoia a medida, mas pondera pela necessidade de garantia de direitos sociais aos cidadãos caso o confinamento seja adotado.
"Infelizmente, o governo federal tem tomado poucas medidas do ponto de vista econômico-social para ajudar que as pessoas permaneçam em casa, porque o 'lockdown' não pode ser simplesmente a gente trancar as pessoas em casa sem garantir direitos sociais que estão na Constituição, [como] moradia, alimentação. [...] E aí um auxílio de R$ 600,00 não é algo satisfatório para que as pessoas consigam manter as necessidades delas", diz.
© REUTERS / RICARDO MORAES
Mulher usando máscara na Rocinha, Rio de Janeiro, durante pandemia de coronavírus.
Alexandre Telles ressalta, porém, que sem a devida quantidade de testes para detecção do novo coronavírus no Brasil, será impossível lutar contra a doença.
"É uma situação muito difícil em que, se a gente não tem esses dados, os testes, a gente não consegue realmente fazer o planejamento das ações em Saúde", conclui
As opiniões expressas nesta matéria podem não necessariamente coincidir com as da redação da Sputnik
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