A Associação Médica Brasileira (AMB) anunciou recentemente ter identificado desvio de milhões de reais de suas contas bancárias, que teria sido realizado por funcionária administrativa. Contratou a empresa KPMG para uma auditoria, cujo relatório está no site amb.org.br.
Em busca da verdade, a Associação Paulista de Medicina solicitou que a AMB informasse de forma detalhada tais movimentações financeiras, pois a verdade precisa ser dita aos associados – sempre.
A AMB negou, em claro desrespeito aos delegados, que têm por obrigação averiguar a prestação de contas, já que integram o patrimônio do associado.
Fomos obrigados a recorrer à Justiça para obter acesso. No entanto, por meio de diversas artimanhas jurídicas, a disponibilização dos dados foi procrastinada. O Processo de número 1015026-17.2020.8.26.0100 foi proposto, em fevereiro deste ano, e somente agora tivemos uma sentença que obriga a AMB a fornecer em 20 dias as informações sobre as movimentações financeiras.
A própria empresa que fez a auditoria, a KPMG, alerta: “Restringimo-nos à análise das informações fornecidas e da documentação colocada à nossa disposição pela AMB. Dessa forma, este relatório não garante a inexistência de outros pontos, além daqueles aqui comentados.”
Ou seja, os dados fornecidos foram filtrados previamente pela AMB. Lendo-se atentamente o relatório da KPMG, nota-se alguns fatos que precisam de esclarecimentos, os quais dependem exclusivamente da AMB.
Nas páginas 116 e 117, surge uma informação extremamente preocupante: a conta corrente do Banco do Brasil “BB” – 115.688-8 agência 4223-4 desapareceu dos registros contábeis, entre janeiro de 2014 até 2018.
Contudo, esta conta continuou sendo abastecida pelo diretor financeiro Dr. José Luiz Bonamigo Filho. A operação se dava da seguinte forma: o dinheiro entrava no caixa oficial, principalmente do Banco Itaú agência 0646 conta corrente 72.151, e daí era transferido por ordem do diretor financeiro, desaparecendo dos registros contábeis. Também não aparecia no relatório anual da prestação de contas a ser apresentado à assembleia de delegados.
“Analisamos a movimentação da razão contábil da conta 1.1.1.02.003 do Banco do Brasil (115.688-8) para os anos de 2009 até 2014 e foi possível observar que o saldo contábil foi zerado em 8 de janeiro de 2014, não ocorrendo os registros contábeis das movimentações dessa conta corrente a partir dessa data” – página 42 do relatório da KPMG.
Deve-se destacar que os delegados de São Paulo foram impedidos de participar das assembleias de 2017 e 2018 por manobras da AMB, só conseguindo retornar em 2019, após decisão judicial pela qual questionávamos vários itens da prestação de contas que não foram adequadamente respondidos.
Fica a questão: O que aconteceu com o dinheiro que foi transferido para esta conta que permaneceu oculta?
Em seu relatório sobre a movimentação financeira desta conta, a KPMG ainda cita: “Foram observadas 436 transações entre 2015 e 2018, que totalizam R$ 3.959.163,74. Desses títulos pagos, apenas conseguimos identificar o sacado em 111 casos, que equivalem a 25% do total”.
Em março de 2019, a KPMG recomendou: “A AMB deve solicitar comprovantes/evidências de favorecidos aos bancos relacionados ao trabalho em andamento” – página 126.
Diante destes fatos, cabem inúmeras perguntas:
- Se a AMB nada tem a esconder, por que não disponibiliza aos delegados as informações sobre suas movimentações financeiras?
- Porque a AMB manteve durante quatro anos um caixa oculto de seus registros fiscais?
- Qual foi o destino do dinheiro transferido para esta conta corrente?
- Porque a KPMG não recebeu todos os comprovantes bancários de movimentação desta conta?
A Associação Paulista de Medicina não faz acusações levianas. Nosso único objetivo é obter informações precisas a respeito deste desvio de recursos da AMB para, de forma transparente – de acordo com a verdade -, informar os associados.
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