Após a tomada do poder no Afeganistão, os talibãs fiсaram com as armas e equipamento do Exército do país. Já em breve, os islamistas vão criar suas próprias forças armadas bem equipadas.
Os líderes do movimento Talibã (organização terrorista proibida na Rússia e em vários outros países) declararam vitória após 20 anos da guerra no Afeganistão. As bandeiras da organização extremista são içadas sobre Cabul, o ex-presidente afegão Ashraf Ghani fugiu, enquanto militares e civis dos países ocidentais estão sendo retirados de urgência de Cabul.
Troféus fáceis
Há 20 anos, em 2001, o regime dos talibãs não durou nem alguns meses. As forças da Aliança do Norte, com ajuda da aviação norte-americana, forçaram os islamistas a se esconder e em parte recuar para o Paquistão vizinho. Eles sentiam uma enorme escassez das armas e de material técnico: os aviões da Força Aérea dos EUA e seus aliados destruíam eficientemente os comboios com armas e alimentos.
No entanto, os talibãs começaram uma guerrilha em grande escala em todo o país e passaram a obter armas ocidentais com frequência. Além do mais, intensificaram-se as entregas de armamento a partir do Paquistão.
Até 2010, em qualquer mercado afegão era possível comprar por um pequeno montante uma mira americana para arma, um rifle de assalto alemão ou um rádio japonês. O estoque se ampliava regularmente em resultado das emboscadas terroristas a comboios da OTAN. Quando o Talibã passou para a ofensiva em massa em maio deste ano, os jihadistas não estavam pior armados que os soldados do Exército afegão.
Só que estavam melhor motivados. O Exército governamental se tornou totalmente incapaz de se defender após o início da retirada das tropas norte-americanas. Unidades inteiras passaram para o lado dos talibãs com armas e equipamento militar.
Nas redes sociais, os islamistas postaram fotos e vídeos de troféus capturados por eles nas antigas bases dos EUA. Assim, em Kunduz, eles obtiveram dezenas de veículos blindados, um tanque T-55 e um pequeno drone Scan Eagle. Na base de Bagram, ficaram com centenas de unidades de equipamento especial e peças. Em Mazar-i-Sharif e Kandahar – com helicópteros e bombardeiros leves.
Grande arsenal
O Talibã capturou todos os bens do Exército afegão, com exceção do material técnico que os militares afegãos conseguiram deslocar através da fronteira para outros países, para o Irã particularmente.
Conforme o boletim anual The Military Balance, as tropas governamentais possuíram 40 tanques médios T-55 e T-62, 620 veículos blindados MSFV, 200 carros blindados MaxxPro e uns 1.000 veículos Hummer. Havia até 50 lança-foguetes Grad, 85 canhões de artilharia D-30 de 122 mm e 24 M114A1 de 155 mm, bem como 600 morteiros. Agora, esse arsenal está nas mãos dos talibãs.
Além disso, eles capturaram milhares de armas ligeiras de produção ocidental, toneladas de munição, equipamentos de visão noturna, de infravermelhos, uniformes, entre outros.
A Força Aérea do país incorporava 22 aeronaves turboélice de ataque leves EMB-314 Super Tucano, quatro aviões de transporte C-130H Hercules, 24 leves Cessna 208B e 18 PC-12. Na aviação do Exército havia seis aviões de ataque Mi-35, 76 Mi-17, 41 leves MD-530F e até 30 multifuncionais UH-60A Black Hawk. É certo que nem todo o material será útil. Mesmo assim, se até uma parte das aeronaves for capaz de voar, o Talibã tem agora capacidades completamente novas.
A aviação nas mãos da organização terrorista é uma grande ameaça para os países vizinhos. Vale relembrar que o pretexto para a invasão americana foram os ataques terroristas em 11 de setembro de 2001, quando os extremistas capturaram vários aviões de passageiros e os direcionaram contra as Torres Gêmeas em Nova York.
Hipoteticamente, cada aeronave do Talibã é uma arma que pode ser preenchida com explosivos e ser utilizada para ataques. Os militares afegãos não perceberam isso e deixaram o equipamento intacto, sem sequer o tentar destruir. Além disso, muitos pilotos voluntariamente se juntaram aos islamistas.
Hoje os talibãs afirmam que não planejam invadir outros países, mas não se sabe o que eles podem decidir amanhã. Conforme as palavras do especialista da Associação dos Analistas Políticos Militares, Oleg Glazunov, os talibãs têm células adormecidas em todos os países da Ásia Central, incluindo no Tajiquistão, Uzbequistão e Turcomenistão. Junto com os refugiados do Afeganistão podem chegar a estes países futuros terroristas. "Por quê? Acho que os talibãs têm um plano de longo alcance que vai além do Afeganistão: criar um cinturão de Estados islâmicos na Ásia Central."
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