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sexta-feira, 3 de abril de 2020

Como EUA 'apreendem' cargas de equipamentos médicos destinadas ao Brasil e outros países?



Aumentam relatos de que EUA estariam oferecendo até três vezes mais dinheiro para desviar cargas de equipamentos médicos destinadas a outros países. Brasil, França e Alemanha já tiveram envios cancelados por causa da compra massiva dos EUA.

Compradores norte-americanos estão oferecendo até três vezes mais dinheiro para desviar para os EUA cargas de equipamentos médicos oriundas da China com destino a países como França e Brasil.

França denuncia carga desviada em aeroporto

Máscaras adquiridas por Paris estavam carregadas em aeronave no aeroporto de Xangai, quando compradores dos EUA apareceram e ofereceram o triplo do valor da carga para que ela fosse enviada a Washington, reportou o The Guardian.
Jean Rottner, médico e presidente do Conselho Regional de Medicina da França, afirmou que o país vai ficar sem a carga de milhões de máscaras, muito aguardada nos hospitais lotados do leste francês.
"Já na pista de pouso, eles chegam, mostram o dinheiro vivo [...] então realmente precisamos lutar", revelou Rottner.
Rottner não identificou os compradores, mas funcionário do governo francês indicou ao jornal britânico que se tratava de um grupo a serviço do governo dos EUA.
"A cereja do bolo é de um país estrangeiro que pagou três vezes mais o preço da carga na pista do aeroporto", disse o chefe da província francesa de Provença-Alpes-Costa Azul ao canal francês BFMTV.
Fonte do governo dos EUA disse à AFP que "o governo dos EUA não comprou nenhuma máscara que deveria ter sido enviada da China para a França. Informações contrárias a essa são completamente falsas".

Primeiro-ministro do Canadá expressa preocupação

O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, descreveu informações como as divulgadas pelos franceses como "preocupantes" e pediu para que seu governo investigasse casos similares.
"Temos que garantir que equipamentos destinados ao Canadá sejam entregues e permaneçam no Canadá. Eu pedi a ministros que acompanhem esses relatos", afirmou Trudeau nesta quinta-feira (2).

Berlim relata caso similar

Na Alemanha, nesta sexta-feira (3), o jornal Tagesspiegel reportou que carga de equipamentos médicos encomendada por Berlim também teria sido desviada pelos EUA.
Os paramédicos Jochen e Julia verificam o equipamento de uma ambulância antes do início do seu turno, à medida que a propagação da doença COVID-19 continua, Worms, Alemanha, 24 de março de 2020 (imagem referencial)
© REUTERS / HANNIBAL HANSCHKE
Paramédicos verificam o equipamento de uma ambulância na Alemanha em meio ao coronavírus (imagem referencial)
Berlim havia encomendado máscaras respiratórias profissionais FFP2 e FFP3 de uma fabricante, que seria uma empresa norte-americana que produz na China. A carga teria sido interceptada pelos norte-americanos e desviada para os EUA, reportou o jornal.

Compras do Brasil 'caíram'

O ministro da Saúde do Brasil, Luiz Henrique Mandetta, fez um relato similar em coletiva de imprensa, na quarta-feira (1º). De acordo com o ministro, compras feitas pelo Brasil na China de equipamentos de proteção individual, como máscaras e toucas, foram canceladas após os EUA adquirirem volume imenso desses produtos.
"Hoje os EUA mandaram 23 aviões cargueiros dos maiores para a China, para levar o material que eles adquiriram. As nossas compras, que tínhamos expectativa de concretizar para fazer o abastecimento, muitas caíram", afirmou Mandetta.
O ministro acrescentou que a situação é ainda pior no caso dos respiradores, uma vez que fornecedores que já haviam sido contratados cancelaram os pedidos.
Máscaras em linha de produção na cidade de Xangai, na China, 31 de janeiro de 2020
© REUTERS / ALY SONG
Máscaras em linha de produção na cidade de Xangai, na China, 31 de janeiro de 2020
"Nós estávamos comprados, tínhamos, quando começamos a pedir. Entregaram a primeira parte. Na segunda parte, mesmo com eles contratados, assinados, com o dinheiro para pagar, quem ganhou falou: não tenho mais os respiradores, não consigo te entregar", relatou o ministro.
O ministro lamentou que, por causa dos cancelamentos, o Brasil não irá avançar na questão do abastecimento de equipamentos médicos no curto prazo.
"Então nós voltamos de algo que a gente achava que já tinha. Demos um passo para trás", declarou o ministro. 
A pandemia de COVID-19 já registra mais de 1 milhão de infectados ao redor do mundo e 53.975 vítimas fatais. Os países com maior número de casos são os EUA, Espanha e Itália. O Brasil registra 8.066 casos e 327 vítimas fatais, até a manhã desta sexta-feira (3).

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