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terça-feira, 9 de junho de 2020

China perto de competir com Rússia e EUA nos mísseis com motor scramjet?



A mídia chinesa relatou recentemente terem sido dados novos passos por cientistas chineses no desenvolvimento e teste de um motor a jato de ar hipersônico de fluxo direto (scramjet).

Em declarações à Sputnik China, o especialista militar russo Vasily Kashin avalia a importância do desenvolvimento do novo motor para o progresso do programa de mísseis chinês.

Testes prometedores

"O motor chinês foi capaz de funcionar durante 600 segundos no banco de ensaio, melhor que os experimentos análogos nos EUA. Nas publicações chinesas, ele é comparado com o tempo alcançado com a aeronave hipersônica experimental americana X-51, que foi de 210 segundos", relatou o especialista.
"Isso significa que a China já estaria pronta para ultrapassar os EUA e a Rússia na criação de mísseis de cruzeiro hipersônicos?", questiona Kashin.
A China começou a testar seu míssil de cruzeiro com motor scramjet somente por volta de 2015, ou seja, mais tarde do que a Rússia e os EUA.
A Rússia está testando seu míssil de cruzeiro hipersônico 3M22 Tsirkon e, segundo Kashin, "espera-se que ele possa entrar em serviço nos próximos anos".
Um míssil similar norte-americano, também ainda em fase de testes, deverá entrar em serviço muito mais tarde que o míssil russo, preveem especialistas.

© AP PHOTO / NG HAN GUAN
Veículos militares chineses transportando o míssil balístico DF-17 durante o desfile militar em homenagem aos 70 anos da criação da República Popular da China
"Ao mesmo tempo, deve se ter em mente que a Rússia e os Estados Unidos acumularam muito conhecimento nesta matéria ainda nos tempos da Guerra Fria, enquanto que para a China um projeto destes ainda é novo", assinalou Kashin.

Sistemas muito complexos

A peculiaridade do desenvolvimento do scramjet é sua extrema complexidade. Os mísseis de cruzeiro com tal motor são o tipo mais complexo e perfeito de arma hipersônica.
A Rússia tem agora dois tipos de armas hipersônicas em seu arsenal. Um deles é o sistema Avangard, um míssil balístico intercontinental com uma carga de combate planadora hipersônica.
O segundo é o míssil de cruzeiro aéreo Kinzhal lançado pelo caça MiG-31K.
Por sua vez, a "China possui o míssil DF-17 com carga de combate planadora hipersônica", continuou o especialista.
"Todos estes sistemas possuem ogivas hipersônicas sem motores próprios. São acelerados até à velocidade requerida por um motor de foguete-portador de míssil balístico, usando o Kinzhal também o avião", explicou Kashin.
Devido a isso, eles são bastante menos complexos que um míssil de cruzeiro com sistema scramjet. O motor de um míssil de cruzeiro desse tipo funciona durante todo o voo utilizando oxigênio atmosférico, o que aumenta significativamente sua capacidade de manobra e alcance, acrescentou o especialista.

© SPUTNIK / MINISTÉRIO DA DEFESA DA RÚSSIA
Lançamento de míssil balístico Bulava a partir do submarino nuclear russo Yuri Dolgoruky, no mar Branco, em direção ao polígono de Kura (península de Kamchatka)
Uma característica do scramjet é a extrema dificuldade de recriar as condições de funcionamento do motor em uma bancada de teste no solo.
"A etapa de testes no solo é necessária, mas é seguida por uma etapa de testes de voo muito complexa, durante a qual os desenvolvedores tentam alcançar o maior tempo possível de operação do motor", assinalou.
Para os experimentos são utilizados meios aéreos de teste especiais. Na URSS, por exemplo, eles eram baseados nos mísseis antiaéreos do sistema S-200, com o motor hipersônico montado no lugar da carga de combate.

China vai ombrear com Rússia e EUA

"A organização de tais testes é um problema complexo em si mesmo", afirmou Kashin, para quem é difícil comparar os dados sobre duração do funcionamento do motor em testes de bancada com os que ocorrem em voo real. Mas como a China ainda não divulgou dados, ainda se torna mais complicado.
Mas o especialista não tem dúvidas que mais tarde ou mais cedo a China construirá seu próprio míssil de cruzeiro com motor scramjet.
Contudo, "a extrema complexidade deste desafio técnico sugere que levará muito tempo ainda para a solução ser alcançada", concluiu Vasily Kashin.

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