A crosta oceânica da Terra forma-se quando a rocha do manto derrete perto de fissuras de placas tectônicas nos cumes vulcânicos submarinos, produzindo basalto.
Contudo, muitos dos fenômenos que acontecem por baixo dessa crosta permanecem um mistério para a ciência, incluindo o destino das seções que retornam às camadas mais profundas da Terra.
Uma equipe de geoquímicos da Universidade Estadual da Flórida descobriu pistas importantes sobre onde essas rochas estariam escondidas.
Em estudo publicado na revista Science Advances em 26 de junho, os pesquisadores forneceram novas evidências de que, embora a maior parte da crosta terrestre seja relativamente nova, uma pequena porcentagem é constituída por pedaços antigos que haviam "afundado" há muito tempo no manto e que depois reemergiram.
Crosta reciclada
Os geoquímicos também apuraram - com base na quantidade dessa crosta "reciclada" - que o planeta vem sacudindo a crosta consistentemente desde sua formação há 4,5 bilhões de anos, fato que contradiz as teorias dominantes.
"Da mesma maneira que o salmão volta para desovar ao local onde nasceu, alguma crosta oceânica retorna a seu local original, as cristas vulcânicas [submarinas] onde a crosta fresca nasce", afirmou o coautor Munir Humayun, citado pelo portal Phys.org.
"Utilizamos uma nova técnica para mostrar que este processo é essencialmente um circuito fechado, e que a crosta reciclada é distribuída de forma desigual ao longo dos cumes", explicou Munir.
A crosta oceânica da Terra é formada quando a rocha do manto derrete perto de fissuras entre placas tectônicas ao longo de cumes vulcânicos submarinos, produzindo basalto.
À medida que a nova crosta se forma, ela empurra a crosta mais antiga para longe dos cumes, em direção aos continentes, como uma esteira rolante super lenta, eventualmente atingindo as denominadas zonas de subducção, onde é empurrada sob outra placa e "engolida" de volta às camadas inferiores da Terra.
Crosta subduzida
Os cientistas há muito tempo que teorizam sobre o que acontece com a crosta subduzida após ser reabsorvida no ambiente quente e de alta pressão do manto do planeta.
Essa crosta pode afundar mais profundamente no manto e ficar ali, subir de volta às camadas de superfície ou rodopiar através do manto.
Alguma dessa crosta pode também se erguer, refazer-se nos cumes do meio do oceano e formar novas rochas para mais um passeio de um milhão de anos no fundo do mar.
Os cientistas já se tinham confrontado com indícios que apontavam nesse sentido, pois alguns basaltos coletados nas cordilheiras do meio do oceano – os basaltos enriquecidos – tinham uma porcentagem mais alta de certos elementos que tendem a se infiltrar no manto derretido a partir do qual o basalto é formado. Outros, os chamados empobrecidos, tinham níveis muito mais baixos.
Para esclarecer o mistério da crosta que desaparece, a equipe analisou quimicamente 500 amostras de basalto coletadas em 30 regiões de cumes oceânicos. Alguns eram enriquecidos, outros empobrecidos e os restantes estavam no meio.
A equipe descobriu que as proporções relativas de germânio e silício eram menores em derretimentos de crosta "reciclada" do que no basalto "virgem" que emergia da rocha derretida do manto.
Nova técnica desvenda mistério
Recorrendo a uma nova técnica por eles próprios desenvolvida e com recurso a um espectrômetro de massa, os geoquímicos lograram identificar uma impressão digital química distinta para a crosta subduzida.
Foi o primeiro passo para os autores do estudo poderem identificar as diferenças claras entre basaltos enriquecidos e empobrecidos.
A equipe detectou taxas mais baixas de germânio e silício em basaltos enriquecidos - a impressão digital química de crosta reciclada - em todas as regiões onde coletaram amostras, resolvendo o mistério da crosta que desaparecia.
Aprofundando os dados, os pesquisadores conseguiram calcular que cerca de 5 a 6% do manto da Terra é feito de crosta reciclada.
A ciência não desconhecia que a Terra produzia crosta na proporção de alguns centímetros por ano. Mas que o fazia de maneira consistente ao longo de toda a sua história era desconhecido.
Ou seja, "as taxas de formação de crosta não podem ter sido radicalmente diferentes do que são hoje, o que não é o que todos esperavam", concluiu Humayun.
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